sábado, 9 de abril de 2011

Torne-se um Investidor Cultural

O que é o projeto “Sobre Máscaras e Espelhos”?

O projeto trata da publicação e da divulgação do livro "Sobre máscaras e espelhos". O livro é um compilado de sonetos e contos que o autor publicou por vários anos no site www.srpersonna.blogspot.com. O texto é fruto de um projeto experimental que pretende, através do resgate histórico das características do simbolismo e do parnasianismo, encontrar novas maneiras de abordar angustias e temáticas contemporâneas. O resultado dessa experiência é um texto denso, rico e de alto valor histórico-literário, uma vez que resgata as características e valoriza a memória de uma época importante e pouco lembrada da literatura brasileira.

O que é um investidor cultural?

Investidor cultural é aquela pessoa que destina parte do seu imposto de renda para projetos culturais.

Quanto eu posso deduzir do valor investido no projeto?

O projeto “Sobre Máscaras e Espelhos” foi aprovado na Lei Rounaet no artigo 18. Isso significa que qualquer doação que você realizar para o projeto permitirá 100% de dedução no IR.

Como eu posso investir no projeto?

Para investir no projeto ou tirar qualquer dúvida basta entrar em contato com os responsáveis pelo projeto:
Luciana - lucianaacoelho@yahoo.com.br / 31 8334-2666
Lucas Lisboa – lucasc.lisboa@gmail.com / 31 9874-2347 ou  21 8391-7732
Para mais informações do projeto ou para acompanhá-lo, acesse o site no Ministério da  Cultura: www.cultura.gov.br

Dados para depósito
Banco do Brasil
Agência 33685
Conta 426261

O que é a Lei Rouanet (lei federal de incentivo a cultura)?

A Lei Rouanet criou o PRONAC – Programa Nacional de Apoio a cultura, que tem como finalidade obter recursos para a área de cultura através de renuncia fiscal. Tanto empresas quanto pessoas físicas podem deduzir imposto através dessa lei. Nessa cartilha nós vamos tratar apenas das deduções realizadas por pessoas físicas. A Lei Rouanet é uma ótima oportunidade de definir como parte do dinheiro que você paga ao governo é utilizado.

Como me tornar um investidor cultural?

É muito fácil investir em cultura. Primeiro é preciso encontrar um projeto cultural que tenha sido aprovado na Lei Rouanet (lei federal de incentivo a cultura). Depois você decide quanto quer investir no projeto. Então é a hora de contatar o responsável pelo projeto e fazer o depósito na conta bancária do projeto. Lembre-se de pedir e guardar o recibo da doação. Quando você for fazer a declaração de IR basta lançar os dados do investimento cultural e você poderá abater uma parte ou a totalidade do valor investido.

Como saber quanto eu posso abater do IR?

Primeiro você precisa verificar em qual artigo o projeto que você escolheu está incluído. Projetos incluídos no artigo 18 permite 100% de abatimento e projetos incluídos no artigo 26 apenas 80%. Isso acontece porque o ministério da cultura privilegia o investimento em algumas áreas como literatura e artes cênicas. Outro coisa importante: você só pode abater até 6% do imposto devido. Qualquer valor acima desse teto não poderá ser abatido do IR. Entram também nesse teto doações feitas ao Fundo da criança e através da Lei de incentivo ao esporte. Veja abaixo como calcular esse valor, a seta vermelha indica quanto imposto você deve ao fisco. Use esse valor para calcular quanto você pode investir em cultura, ou seja até 6% desse valor.  Na sua declaração de imposto de 2010 uma estimativa desse valor. Se você não tem os valores da sua declaração de 2010, faça uma simulação com a sua estimativa de rendimento de 2011.




Abra o programa de declaração da Receita Federal; vá em “cálculo de imposto” (em azul, com seta vermelha). Verifique o valor no campo “Imposto” (assinalado em vermelho). Você pode deduzir até 6% desse valor. No caso, até: R$ 950,52

É burocrático e complicado lançar o abatimento no IR?

Não, na verdade é bem simples. A primeira coisa que você deve fazer é fazer sua declaração de IR pelo modelo completo. Quem utiliza o modelo simplificado não pode deduzir investimentos em cultura. Após fazer sua doação você recebe o recibo de mecenato. Lembre-se de guardá-lo. Para facilitar a emissão do recibo forneça ao empreendedor cultural os seguintes dados: CPF, endereço, CEP e telefone.

Os dados que você deve guardar são os que estão marcados em vermelho: O número de PRONAC que identifica o projeto e o CPF/CNPJ do proponente do projeto. Com o recibo em mão você pode lançar a sua doação na declaração de imposto de 2011.



Como eu declaro o pagamento realizado ao projeto?

Vá no item “Pagamentos e Doações Efetuados” (seta vermelha); inclua um novo item; utilize o código 41 “Incentivo a cultura”. Coloque como nome o número de PRONAC do projeto e o CPF do proponente. Indique o valor doado e no campo “parcela não dedutível” deixe 0, pois projetos aprovados no artigo 18 permitem 100% de dedução.


Como eu vou receber o valor abatido do IR?

Você recebe o valor investido em cultura de volta na mesma data em que receber a restituição do seu IR ou for pagar o IR. A doação para projetos culturais é vantajosa tanto para quem tem imposto a pagar quanto para quem tem restituição a receber. Veja como fica a declaração em ambos os casos:

Imposto a pagar sem contribuição a cultura:


Imposto a pagar com contribuição a cultura:


Observe que no primeiro caso o saldo a pagar era de R$ 672,92 e que no segundo, devido a doação, caiu para R$ 172,92.

Veja agora um exemplo de imposto a restituir:

Restituição sem contribuição a cultura:

Restituição com contribuição a cultura:
Observe que no primeiro caso havia apenas R$ 152,08 a receber de restituição. Já no segundo havia R$ 652,08 para receber.

Quem é o autor do livro?

O autor é o jovem escritor mineiro Lucas Castro Lisboa, que atualmente cursa filosofia com foco em literatura na Universidade Federal de Minas Gerais. Antes disso ele concluiu 6 semestres de direito na Universidade federal de Ouro Preto. Desde 2003 que o autor mantém publicações regulares na internet. Ele participou como colaborador do blog “Poesia Formada” durante 3 anos e também manteve o blog “Poeta do Hediondo”. A partir de 2006, ele passou a escrever no blog “Sr. Personna, o que trazes para mim?”, que permanece ativo até hoje. O autor possui duas publicações em jornais: uma no jornal Mogi News (2007) e outra no jornal O Tempo (2007).  E também participa do Fórum Spell Brasil (poesia), e já participou de vários saraus como o Jus Noctis (2003-2008), Penumbra (2006-2008), FALE-UFMG (2007-2008) e FAFICH- UFMG (2007-2008).


Quais ações estão previstas no projeto?

No projeto estão previstas as seguintes ações:

Produção de 1400 exemplares do livro dos quais 770 serão doados para bibliotecas, centros de cultura e escolas públicas. O restante será destinado a vendas com preços populares.

Evento de lançamento do livro onde acontecerão performances teatrais baseadas em sonetos da obra.

Reformulação do site do autor, onde haverá além da publicação de poemas, textos voltados para literatura e linguística.

Disponibilização de uma versão em áudio do texto do livro, permitindo a inclusão social de deficientes visuais.

terça-feira, 5 de abril de 2011

à tarde

"Puta que o pariu, calor desgraçado!"
Você me reclama toda irritada...
mas a questão está solucionada:
Você fica nua, que eu fico pelado!

"Eu já me refresquei com limonada..."
Oras! Deixe de pudor recatado
Estamos cá só nós nesse feriado
Vem nuazinha, que não perde mais nada!

"Tá bom, mas fica bem longe de mim!"
 Está bem, eu já sei me comportar
mas não quer mesmo no colo deitar?

"Está bem, só deito a cabeça sim?"
E mas quem sabe um carinho de leve...
"Safado! como é que você se atreve!"

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Versos simples e Rimas fáceis

Porque toda poesia parece ser
uma cópia do que ainda não foi escrito?
Porque a palavra pode parecer
uma contradição que sempre evito?

Porque neste ato de vos escrever,
todos erros somam ao infinito?
Porque em todo momento querer
consertar essas falhas que permito?

Não existem esses versos tão perfeitos
ou que retratam amores iguais
do versamento de todo pueril

Desses saberes pela mente eleitos
mesmo não sendo os mesmos ideais
ao menos pelo entreter infantil

O ofício do poeta

O poeta que faz dos versos
Cruz, escudo, rosa e espada
Esquece do fim da estrada
Tece sentidos diversos

O poeta que faz dos versos
Cruz, escudo, rosa e espada
Perde o início para o nada
Nos pensamentos perversos

Poeta que dos versos faz
A cruz que adorna sua fé
O escudo defensor à mente

Poeta que dos versos faz
A rosa do amor que és real
A espada da luta ao ideal

Meu tear

Quando parto de linhas sintéticas
e mais de mil mãos artificiais
Querendo imitar antigas estéticas
tento copiar os bordados manuais

Fujo das mentes modernas e céticas
e luto contra o tear dos dias atuais
descubro verbos e reinvento métricas
só não sei tecer os pontos finais

em minha casa uma tapeçaria
que supostamente persa seria
tentativas que foram todas vãs

em fios dourados, quanta alegria!
nessas tantas cores que já se via
e que por vezes sequer eram sãs

A minha vaidade como Poeta

Pedir desculpas por minha existência?
uma bela tragi-comicidade!
até, quem sabe, sinal de demência!
do artista da mais pura vaidade...

Meus versos desconhecem inocência,
cheios de ironia e de verdade.
Minhas palavras exalam dolência,
brindo toda sorte de qualidade!

Gosto de estranho ser em qualquer meio...
Arte em frases é matéria que esculpo!
e erros meus ou de outrem não desculpo.

Pouco importa qualquer desejo alheio.
eu por prazer, dos verbos feios abuso!
pois, para mim, torno belos ao uso!

Cinzento

De onde vem esta culpa tamanha,
s que não nega ou aceita uma sanha?
da voz motivada ou gratuita...
até mesmo o respirar já irrita!

Nem goles de álcool a queimar entranha
se livra da dor dessa velha manha!
são vícios de quem nada tem à vista...
e berra mas não sabe porque grita!

Quando sono esvai pela madrugada,
e d'um lado ao outro perseguido
certamente não haverá aconchego...

Cada vez mais: mente degenerada
Tensão entre calafrio e tremido
Ousa sonhar suspiro de sossego!

Ela rara

Ela de sua singularidade tão rara
se presta para no beijo mais onírico
assim o toque do suspiro não se separa
provoca o desvanecer do poeta lírico

Ela, ouviu versos que nunca recitara
sentindo pelos fios d'um destino satírico
e rezei a quem tributo nunca prestara
enebriado pelo seu sabor alquímico

Com carinho a lembrança do seu paladar
uma noite, e porque não dizer, apaixonada
um deleite que toda minh'alma aqueceu

Num soneto complacente eu irei guardar
um sonho que deslinhou pela madrugada
uma casa, na memória permaneceu

Suspiro

Quando não escuta d'uma paixão os gritos
Quando não lhe toca os sonetos mais bonitos
Pois já que meus prantos lhes são indiferentes
Cerro mágoas e lamentos entre os dentes

D'uma ilusão voltar aos belos momentos
Absinto e os fungos não são os instrumentos
Que sacia minha inexistência permanente
e mesmo um botão de rosa é o suficiente

De Luvas, velas e vistas enamoradas
Perfumes, olhares. Um suspiro bastava
e era leve o roçar que provoca e acalma

As tão belas asas de sedas delicadas
Tecidas com tanto amor que não esperava
que se fizessem lâminas ferindo a alma

Candelabro de ouro

Meu adeus à vela que se consome
para iluminar aqueles mais cegos
e alimentando uma sangüínea fome
por deixar-se às cruzes e aos pregos

Duma luz não-refletida que some
sendo engolida pelos mais vis egos
ao permitir que tudo seu se tome
finda apagada por alheios aspergos

Lestes romances pela madrugada
E lindos épicos em narrativa
Acompanhou muitos ébrios velada

Em uma alegria de essência altiva
Agora caminhas ao ocaso calada
Renegando tudo que lhe faz viva

Ainda posso sorrir

Pois saiba que ainda posso sorrir
talvez porque nem tudo seja mal
como naqueles dias que lhe vi partir
para um ignoto deserto de sal

Hoje talvez, eu cante para lhe ouvir
esse torpor lhe mostra o quão real
é o meu intento de não permitir
que meu sonhos escorram pelo vau

Sim, sem as palavras você voltou
mesmo sangrando em seus pés descalços
mesmo vestindo trapos maltrapilhos

Sim, de olhar cerrado ao colo deitou
mesmo com os seus tantos temores falsos
mesmo com o suor de mil andarilhos

Juras à Bela Donzela

Por um tanto surpreso com sua assertiva
Pois pergunto-lhe porque ainda és donzela;
se por entre tantas belas és a mais bela
e como flor que das cores é a mais viva?

Na surrealidade do deleite se priva
e atiça o sonho alheio tal fogo à vela
pela música, poesia ou aquarela
artistas expressam sua alma não cativa

Mas venha, mostrando sua luminosidade
Afinal, o seu sorriso encanta o momento

Mas venha, alçar vôo à pura liberdade
Afinal, vamos para onde não há tormento

Mas venha, receio é só suave vaidade
Afinal, ao seu olhar brilha o firmamento

Rosa Urbana

Segue o dia sequer ouço meus passos,
Por mais que ande por becos e avenidas.
Escondendo-me nos parcos espaços,
À procura das essências perdidas.

Cuido de plantas e vasos escassos,
Eu as vejo aos cantos esquecidas.
E ainda as guardo, em pequeninos laços,
flores não de todo desvanecidas...

Crescem sem o toque da mão humana.
e brota beleza do metal frio.
vida de existência quotidiana.

És a minha tão doce rosa urbana,
que enraizada ao concreto vazio,
um perfume das pétalas emana.

Um quarto de hora

Janelas abertas, portas trancadas,
terceiro andar donde não há paisagem.
Folhas brancas, idéias espalhadas,
origami trazido duma viagem.

Lâmpadas acesas, taças quebradas,
manchas fluorescentes tal miragem.
Canetas diversas, cartas lacradas,
livros atentados numa passagem.

Espelhos, mil espelhos nas paredes,
todos refletem o riso nervoso.

Espelhos, mil espelhos nas paredes,
todos devolvem o pranto ardoroso.

Espelhos, mil espelhos nas paredes,
odos engolem o pequeno gozo.

Minhas nuvens egoístas

Um único cigarro, por leves tragadas
ato solitário do mais puro prazer
atiça a mente fazendo-me esquecer
e talvez até melhor que mulheres pagas

Ao passo d'umas felicidades sagradas
da fumaça, dos pulmões apenas lazer
causando o singelo poder d'um melhor ser
baforadas e velhas pontas apagadas

Roupas que dançam e desfilam do armário
as nuvens negras causam um gozo pequeno
alguns apenas tratam como um reles vilão..

Não hoje, ao meu caro leito solitário
rabisco displicente sob sonhos pequenos
como o tocar sôfrego de gélidas mãos...

Os teus delicados grilhões

Mostra-se de todo alheio?
Sinta o calor de meu seio
Encontra-se já perdido?
Às mãos guiar-te ao olvido

Estranha-te o velho meio?
Junte-se em meu devaneio
Olha-me com ar ferido?
O acusar não faz sentido

Queres curar-se do anseio?
Faça o caminho esquecido

Trilhar por onde veio?
Mesmo assim és assistido

Com indagações cansei-o?
Deite o corpo adormecido

Por uma alma tão nobre

Acostume-se co'as lágrimas mais daninhas
por vislumbrar os domínios das secas vinhas
ou, quiçá, ricos palacetes tão vazios
mas que afundam-se nos lamacentos rios

De nada serve fuga às terras vizinhas
malgrado, o caminho é de vagas linhas
apenas verá campos de falseados cios
no descanso, só jazigos serão macios

Tome, pegue este vinho que te pertence
beba e aprecie tão singular horizonte
que foi pintado com requinte viceral

Não terá leito que seu esforço compense
Anda onde é cega a luz e seca a fonte
bailes, prantos, banquetes, rotina banal.

O teu epitáfio

Observe este tracejado tormento
Cada qual segue seu próprio momento
Mesmo que seja desespero puro
Sigas tu neste corredor escuro

Debaixo deste gélido cimento
Mogno já faz parte de seu elemento
Belas palavras ao sepulcral muro
Já que tu foste entregue ao obscuro

Teus olhos podem continuar fechados
Se abri-los luz alguma sentirá
Sem frestas para o ar que respira

Tua mente e corpo estão emparedados
e mesmo querendo ato algum fará
São ecos dos gritos um dia ouvira

Máscara de Porcelana

Engraçado, ao menos, que também se sente
vítima de qual troça, à pensar que sei
de algo, que destas tuas belas palavras... mente
sempre, quando indago daquilo que calei.

Diante do discurso, que fala mais, ausente
nas frases, doces num dia sem sol... deixei
claro, à memória, mais que teu presente
belo como um "adeus", pois sabes, voltarei.

Sorria, pois não precisa mais, se despedir...
foi meu único presente, despretensioso
tal queimar, co'a cera, da vela derretida!

De olhos tão fechados... não me viu partir...
pelo menos Ouviu-me, gargalhar, desgostoso
desta, no bater da porta, que é minha vida!

Das nuvens d'uma madrugada

Anjo leviano, deitado ao dossel,
d'um ar entediado e observar displicente
Porque tu desejas algo além deste céu?
Minutos a me fitar, o que tens em mente?

Deslinha em distintas cores um carretel,
que só sugere alguma fantasia "inocente"!
Porque poda da cama seu ilustre véu?
A perder-se numa nudez não-aparente?

Pois não esperas de mim menos do que tudo?
De velas pelo quarto sopro o que não canto!
Me provocas as idéias mais libidinosas...

Da tua navalha sabes que não tenho escudo?
Lençóis espalhados por capricho e encanto!
Tuas asas me são caras e prazerosas...

O berço mais singelo

Não vê que já basta deste pranto que teima?
Ninguém ouvirá essa voz em sussurro rouco!
Contente-se pois findou a dor do vil edema!
Seja educado, sem vinganças de caduco!

Não lhe resta mais espaço a qualquer dilema:
corrosão já lhe degusta pouco a pouco!
Sugaram sua massa pútrida que envenena
sorria aos vermes que lhe beberam tal suco!

Certo que mesmo uma lápide apagada
lhe seria mais digno que esta palha gasta!
Porém há prazer em tal grotesca devasta!

Húmus, esse reino dos invertebrados!
Nunca teve tão acolhedora morada!
A lhe vestir com o carinho de madrasta!

Nobilíssima Dama

Pois então diga-me, divina e nobre dama,
dos traços assim tão suaves e delicados,
voz dulcíssima e cabelos amaciados,
porque não atirar pedras à tua cama?

Pois então diga-me, maligna e vil dama,
de feição taciturna e olhos mal-amados,
tom sibilante de diversos desagrados
porque eu ainda presto vênia à tua fama?

Sabes, ao baile de modo algum te convido!
Não te agradaria a luminescência da lua...
Ou o som da lira de minha inspiração!

Só por mim, desejo que lhe reste o olvido!
Por deleite quebro taças à pele nua...
Para que cures feridas em solidão!

Este meu adorável pragmatismo

Do pseudo-libertário pensamento,
tenho apenas o nojo mais singelo!
D'algum receio ao prazer de momento,
medos e culpas apenas congelo.

Guardo para os segundos de tormento:
o dolorido que és do mais belo!
Ansioso ao singular sofrimento,
do mesmo modo que meus sonhos velo.

Quando a dor já não passa de desejo,
Quando a fé professa pura vaidade,
mortificada por claro deleite!

Quando as todas cores eu não mais vejo,
Quando as idéias são de pura vontade,
não há mais status quo que se rejeite!

Como já não me resta o paladar

Eu sou o dedo médio do protesto.
A mais vil criatura do manifesto!
Do gosto mais vermelho sou amante!
Do sabor mais claro sou puro infante...

Para ineficácia do mal eu presto;
e dos campos recolho qualquer resto.
Sem perdurar mais que um negro instante...
Alcançando profundezas e avante!

Venho por entre os pincéis de luz,
por navios anis ao atracador;
carga pesada esqueleto-motor!

Copos com o amargo do ponto-cruz.
Esses vinhos cuja tão bela cor,
passam para ser do quente sabor!

Passeio pela Mina

Pois veja essa jazida aberta novamente
foi sangrada pela pura ânsia demente
d'ouro escavar pelo palmo mesmo desnudo
Cômico saber: por mero cascalho assassinado!

Apenas espero que você não se espante:
quando ter com um esqueleto que se levante
pois acredite, ele decerto estará mais assustado:
veio de vontade onde ele é acorrentado!

Pegue este trabalho da vida d'um artista
por esta última jóia que lhe cismo
saiba que o lamúrio lhe acompanhará.

Pois sim, decerto que é uma bela vista
Se atente para o brilho do fundo do abismo!
Ele à muito anseia chegar-se por lá!

Lavoura de cactos

Toma este exemplar de invulgar beleza
cultivei para ti estas tantas flores
Espinhos e pétalas; distas cores
Um verde caule de pura aspereza

Chega o dia desta esperada colheita
Nesse deserto de areias tão vermelhas
Chega inverno e se apagam as centelhas
Lavoura de cactos; o sol se deita

Folhas metamórficas as protegem
Não se cansam desse modo existir
Contra o espaço árido e do calor

Caule endurecido que hoje nos servem
Esse buquê de minhas mãos partir
chegando até ti entre pranto e ardor

Quando acordar antes do meio dia

Eu queria, melhor, quisera eu
Ser aos teus braços alguma quimera
de quem, um dia, mandou-se abraços
de sorrir à pálida primavera

Um presente, de laço, todo meu
ao lado da cama, sobre a cadeira;
Escondido sob papéis tão devassos...
ao armário pelo menos uma caveira

Se não me acordar nessa manhã
E degustar o café mais amargo
Ou um doce que se esquece à boca

de ressaca esquecerei vida sã
do trago, o mesmo diverso estrago
do banho, me ressoa a voz rouca.

Incêndio na Floresta

Enquanto a floresta inteira buscava
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
qualquer tanto d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio queimava

O lobo, sentado, o vento tragava
usando de suas habilidades natas
a procurar aquelas almas rotas
que a floresta novamente incendiava

As feras todas caladas o censuravam:
ele parado, sem nada ajudar!
"Que ser mais egoísta!" - murmuravam

não viram-no sorrateiro a circundar...
Pois foi quando as brasas mais crepitavam
que os incendiários se pôs a caçar.

Tecnofeira

Ação: ligar resistores interligados...
Mil e duzentos dielétricos conectados.
Adverso: Esvaziamento da pilha padrão...
Resposta: Iniciar sistema de rotação.

Dado: movimentos precisos religados
Seis válvulas e quarto motor turbinados
Calculando: energia retropotencial de explosão
Ativar: módulos secundários de propulsão

Quinto ato: Terminais ópticos ativados
Súbita seqüência dos sensores do padrão
Quatro módulos sinérgicos reprogramados

Repetindo: terminais locomotores ligados
Solda do conjunto de equilíbrio e direção
Servir e proteger todos os confederados

A minha adorável turba

São risos e mais risos, todos sorridentes!
Calem-se! Não há porque estarem tão contentes.
Lágrimas e mais lágrimas, todos aos prantos!
Parem! Sabemos que entre nós já não há santos.

Loucuras e mais loucuras, todos dementes!
Aquietem-se! Os juizos estão ausentes.
São Vozes e mais vozes, em todos os cantos!
Falem! Me digam o porquê desses encantos.

Percam-se! Por entre essas vozes distorcidas.
Seres de almas vazias e pensamentos pequenos!
Razões iludidas, são homens vivos à postos.

Esqueçam-se! Destas aspirações tão decaídas.
Seres de sangue ralo e de sonhos amenos!
Ilusões perdidas, são homens apenas mortos.

meu anjo

eu lhe escrevo este poema
com uma formosa pena
d'um cativo anjo arrancada
que jaz em minha morada

e não há culpa q'eu tema
nem tenho nenhuma pena
da sua asa delicada
pelos versos depenada

suas lágrimas são a tinta
que mancham o meu papel

Seu copioso pranto encanta
tal canto de menestrel

Sua tristeza faz q'eu sinta
um gostoso drink de fel

Menestrel de Vidro

Eu queria um coração de aço ou vidro
Inquebrável e frio ou se partido
quebrasse em vermelhosos, vis, cristais
contado dessas mil dores ou mais

O de aço pesa tanto que duvido
que poderia guardar em mim ferido
ao peito co'essas dores tão abissais
que carrego nas crateras pulmonais

Eu queria ter nascido todo de aço
tal Donzela de Ferro que se faz
segura na luz fria do seu vestido

Eu queria que não houvesse um espaço
pra essas dores, de poeta mordaz,
se esconderem em meu canto sorrido

sábado, 2 de abril de 2011

Meu Amado Algoz

Vil Algoz querido envolva
meu pescoço com seus dedos...
e o ar do meu peito remova,
com seus gestos doloridos!

Conduza-me a beira d'alcova;
Liberta-me dos meus medos!
O sangue será a maior prova,
que domina meus segredos.

Minha sentença querida,
que nos seus olhos bem vejo,
é o mais grato padecer.

É sua minha própria vida!
faça de mim seu desejo...
e tudo q'eu merecer!

Sr. Personna

Desesperado a saber caro amigo!
que passos anda nossa vil vontade?
Tu terias esse tal saber contigo
diga-me, pelo menos por vaidade!

O teu silêncio é algum castigo!
sabes se me ouvem nesta sua cidade?
Diria-me porque teus passos eu sigo?
já não nos restará qualquer verdade...

Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz-me um contento ou pesar sem fim?

Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz mentira ou boato alegre assim?

Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz-me agora um sonho bom ou ruim?

Maçã aurea

As minhas loucuras são tão singelas
que suavemente podem ser colhidas
tal qual as pequeninas margaridas
ou quaisquer outras flores amarelas

As minhas esperanças são tão belas
que formam danças por demais perdidas
morrendo por elas diversas vidas
e não escorrendo nas aquarelas

Sou daqueles que Brinda às estrelas
sem se dar conta dos risos alheios
ou pensar no quão estão distantes!

Sou daqueles que realmente intenta tê-las
sem pensar nos absurdos ou ter receios
pois sei que elas são poesias-diamantes!

Apenas por diversão

Pois plante uma bicicleta
e pedale uma floresta!
Tranque chave na gaveta...
e peça o que não se empresta.

Pois desenhe torto a reta:
que Dez a burrice atesta!
Sê roto em roda seleta...
e faça do luto festa!

Apenas por diversão;
roube o doce do ladrão
do senador e da criança!

Desmarque todo o baralho...
Espante até o espantalho,
convidando-o pra esta dança!

à tarde

"Puta que o pariu, calor desgraçado!"
Você me reclama toda irritada...
mas a questão está solucionada:
Você fica nua, que eu fico pelado!

"Eu já me refresquei com limonada..."
Oras! Deixe de pudor recatado
Estamos cá só nós nesse feriado
Vem nuazinha, que não perde mais nada!

"Tá bom, mas fica bem longe de mim!"
Está bem, eu já sei me comportar
mas não quer mesmo no colo deitar?

"Está bem, só deito a cabeça sim?"
E mas quem sabe um carinho de leve...
"Safado! como é que você se atreve!"

O Libertino

Não respira! Apenas me Beija!
Pra quê fôlego tendo saliva?
Sequer pensa! Me vem toca e veja!
Já sentiu outra mão tão invasiva?

Agora me espera! sirva-se à bandeja!
Já sentiu essa fome tão cativa?
Agora vem fera! Quero que louca seja!
Outra vez já se teve tão mais viva?

Sinta-me lhe invadindo suas entranhas:
profundas, rubras, sanguineas e adversas...
pode gritar mas me faço de surdo!

Vê? Sabia que gostava dessas estranhas
depravações e outras taras perversas
que provoca seu gozo mais absurdo!

Mulher

Se você me olhar Eu olho e isto assusta;
não abaixe a sua vista, vem e me encara,
dá tesão se me fita e me degusta
sem sequer lhe tocar vejo sua tara

Tem certeza que me para? Senão lhe custa
toda essa macheza de pau na cara
vira meu cão que a vara treme e lustra
de quatro pra sua alteza na mi'a sala

Sabe, Eu faço o tipo alternativa:
de furo no mamilo, o meu cabelo
é pintado e meu olhar frio de gelo.

Nunca gostei de ser mulher passiva,
se me dá vontade vou lá e mordo.
se me dá tesão Eu vou lá e fodo!

Eu

Sangue e visceras: nunca fui afeito
tenho como meu mal, vício e defeito
o péssimo costume de me embriagar
causando um desamparo sem par

numa jovem de rosto em traço perfeito
mas resignada ao destino feito
por mim que escolho tudo em seu lugar
sem lágrimas e prantos me importar

Tomar seu corpo já não me é o bastante
seus sonhos e desejos mais profundos
também muito me agradam o domínio

Aprecio quando lhe olho e nesse instante
o ar lhe foge e pensares tão imundos
lhe inundam e anunciam seu vaticínio

Seu Veleiro

Vai! me Suga, me Devora,
me abusa antes de ir embora!
q'eu não valho seu centavo:
sou sua terapia quando bravo.

Vai! me Bata Forte agora,
me descarta sem demora!
sou eterno seu escravo:
usa-me de desagravo.

Massageia suas belas mãos:
nessas nádegas servis,
nesse meu submisso dorso!

Que me riam os ditos sãos...
sirvo seus desejos vis
porque sou nau de um só corso.

A minha bonequinha

meus dedos de chocolate
em seu lábio pequenino
quando minha boca invade
seu pescoço com canino

meu engodo que lhe abate
é traquina de menino
com cara de santo abade
o seu pecado alucino

é minha pequena e singela
menina de mil quereres
debaixo de seu vestido

minha bela cinderela
e dama dos mil prazeres
que segue cada pedido

Poeta Rude

Sou poeta tão grosseiro
que mais que demais me admira
o refino derradeiro
que vêem sob minha mira

Meu poema é chiqueiro
ótimo pra uma kajira
sem um dono verdadeiro
que da pocigla lhe tira

Porque meus versos encantam
tantas leitoras confusas
entre autor e sua obra?

Porque no fim tanto espantam
quando lhes rasgo as blusas
a cuidar que nada sobra?

A Convidada

No casarão abandonado
previamente decorado
com ramos de rubras rosas
pelas suas escadarias

Eu apreciava encantado
o seu olhar espantado
que tão doce me sorrias
segurando as mãos curiosas

Da garrafa em nossa tenda
servi, pra ela e pra mim,
a taça do melhor vinho

Em seus olhos uma venda,
nas mãos, cordas de cetim,
lhe enlaçavam com carinho

Ele

Seus lábios do sabor de vidro e corte
seus suspiros, hálito de mel e morte
Mas eu O desejara tal jamais
quisera minhas fomes comensais

Seus beijos sangrara-me adro e forte
seus braços sufocara-me, mi'a sorte
Era somente a vontade de mais
era mi'a pena, vaticínio, meu cais

Juro, a cada beijo que Ele me roubara
Ia muito mais do que minha saliva gentia

Juro, a cada ferida que Ele me marcara
meu desejo crescia à força de minha agonia

Eu Juro, eu mais que perdidamente o amara
mesmo quando dos meus prantos Ele ria!

Amem

Fela meu falo de quatro
na glande, cantos e nichos
me satisfaz os caprichos
e na lingua eu me farto

Algemas e Crucifixos
lhe decoram em meu quarto
E de joelhos tal retrato
me fita com olhos fixos

pede que estapeio o rosto
peça mais até que sinta
toda voz desfalecer

gozo recebe com o gosto
de quem é mais que faminta
por mim e por meu prazer

Galanteio de repente

Eu jamais posso negar
Que gosto bem mais das ninfas
melhor se forem poetisas
virtuosas ao paladar

Eu conheço um certo sátiro
que não é tão novo assim
pois diz ter tal predicado
mas acho que é só um tarado

É desejo: desconfia
do dito na sua rimada
pois mostra que você ninfa
é também uma tarada!

Serei eu ,tarada de fato
e nada de mais então?
ou está apenas enganado
na sua velha convicção?

O faro de bode velho
não é de errar assim não
vá escute meu conselho
é só seguir seu tesão

Como está bem inspirado
vejo que garoto inda és
só espero que tome cuidado
e não vacile de vez

Tu que me deixas pirado
está cega, não me vês?
por ti todo assim safado
tal um velho lobo maltês!

Droga eu esqueci a rima!
que numa só ia fazer
com minha aura feminina
para bem te responder

Pois esse jogo sabemos
muito bem como termina
e fazer com que erremos
é meu prazer, minha sina

Repete e ficará rouco
certeza tens de saber
és convencido garoto
e senso não pode ter

E também falta bem pouco
pra verdade nao se esconder!
não eu não estou tão louco
sei bem deste teu querer

Por quê tens tanta certeza
de que falto com a verdade?
na verdade acho que a fineza
do teu faro foi tarde

Sei: não é minha vaidade
nem velho ou convalido
se não tivesse o convite
teria em versos respondido?

Ninfas gostam de brincar
e os bodes bem mais ainda...
será que sabe lidar?
ou ficará na berlinda?

ou ainda esgotará meu
estoque de belas rimas?
mas até lá já se perdeu
as minhas graças de esquinas

Disse que era vergonhosa
de tuas rimas e poemas?
o que te deixas tão orgulhosa
senão que eu valha às penas?

Me vale à pena gostar
da brincadeira, são só
versos que o vento vai levar
pois não são mais q'este pó

Provocar-te com uma pena
é uma brincadeira ardilosa
que nos deixa em plena cena
mais rápido do que em prosa

Talvez não entenda de cenas
ou menos do que de prosas
mas deixa pra lá mia rima
não era das mais formosas...

As melhores são rimas mais feias
que da cara vem e gozas
O riso é dessas tuas teias
daquelas finas, ardilosas!

Eu seria tal uma aranha?
tenho a minha preferidas!
viuvas negras: maridos
que transformam-se em comida

Aracnos bem mais espertos
oferecem um belo engodo
pra só assim passar o rodo
tal faço com os meus versos

Eis um duelo afinal
ambos um gosto: poder
quem sera de tal historia ,
aquele que vai vencer?

Sabemos que a carne mortal
é faminta por prazer
não interessa a vitória
o corpo há de padecer

Cansei de fazer versos...
As minhas toscas rimas
me toma um gosto possesso
e escrevem as mão pequeninas

Pelos prazeres diversos
Eu agradeço por sua sina
pois fiz tantos belos versos
pela tua mão de menina!

Zero-Amor

Ambos Bêbados Caminhavam Desolados
Ainda Baixava o Crepúsculo Dolorido
Embalados Faziam Gracejos Horrorosos
Enciumados Fizeram-se Gratos, Honrados

Insensíveis Jogaram-se à Lama Marrom
Inseparáveis Jaziam Lânguidos, Mordazes
Numa Opulenta Perversão Quotidiana
Naturalmente Ordenada Pelo Querer

Revelaram-lhes, Sensualmente, Taras Últimas
Vorazmente Xoxotas Zunindo Azulmente
Braulios Comedores Deleitados Enfim

Rejeitando Sanhaduras Tão Usuais
Velhacas Xícaras Zelaram Absorvidas
Bebiam-se Carregando Desfrutes Enfáticos

Depois da aula

A doce mocinha
morrendo de medo
no parque sozinha
esconde um segredo

Espera prontinha
por seu namorado
co'a pele branquinha
e olhar abaixado

Se balança e aninha
num riso calado
co'a face quentinha
e lábio molhado

Seu segredo vinha
num moço malvado
que lhe fez putinha
de muito bom grado

O Banquete

Talvez por ser o mais fraco;
Talvez por ser o mais forte;
por puro acaso de vida!
por puro acaso de morte!

Talvez por ser mais amante;
Talvez por ser mais consorte;
por puro acaso de azar!
por puro acaso de sorte!

Pois então nós brindaremos;
aos tão ilustres ausentes!

Pois então nós brindaremos;
aos tão ilustres presentes!

Pois então nós brindaremos;
aos ilustres simplesmente!

Carteado

Naquela tênue luz, cartas à mesa posta:
os dedos sobre o Palco marcam o compasso,
por um olhar reluz os punhados da aposta,
de relance o decalco do Arlequim devasso...

Ao lado Imperatriz com seu Bastão em Cruz:
sorri a prima realeza, para de sobressalto
tal uma meretriz ele às cartas faz jus,
gota se esvai, frieza pela face em salto...

Dum trago, tece fio de bruma dançatriz
d'outro lado pigarro de rouca aspereza:
cerra os olhos no fetio da velha cicatriz
na cuspideira escarro dissolve a certeza.

Dedos um tanto tensos esquecem do frio,
finalmente, felinos partem ao bizarro:
são montantes imensos por desvario,
intrépidos ladinos sem temer esbarro...

Sorriso de resposta, olhares intensos:
o passo em falso é trocismo dos destinos!
Na Trapaça exposta: silêncio aos lenços
antes do encalço virão saques alcovinos.

Flauta de Porcelana

Do rosto recoberto, saida d'uma tela
encanta, por ser sonho de qualquer quimera
pois mesmo quando só desnudada aos lábios
basta-os ao findar de pesadelos vários

Flauta de Porcelana, muito mais que mera
cantante de belíssimos versos pois ela
compete de igual co'a filosofia dos sábios
e saberes dos magos com seus alfarrábios

As suas palavras: Divina sabedoria
acalmando os exércitos e os Vis compadeçam
luz no peito mais escuro e d'alma perdida

Sua música é muito mais que chula magia
essa notas que entoa até as pedras tocam
vertem lágrimas d'ouro e ganham própria vida

Pueteiro Punheteiro

Poeta procura puta
para poder punhetá-lo
pagando pelo prazer
procurado poetando

Pois poderia punhetar-se
Porém preferiu pedir
Putinhas para presente
pegando-lhe pelos pomos

Punhetas pelos poemas
poderia pois procurar
por peleja passadina

Porém punha pretensão
por pequenas putanescas
pedindo paus palatáveis

A.R.T.

Certa vez conheci uma poetisa,
fascinou com encanto de Florbela:
Sensivel em flor, técnica imprecisa
e, por fim, também, muitissimo bela

Apaixonei-me pela poetisa
e comecei meu versejar por ela:
Musa, que todo poeta precisa,
concebi, a primeira pensando nela.

Por razões menos nobres não lhe tive...
Amargo, fiz dos versos ferramentas:
Eram tão precisas quanto insensíveis.

De posse delas fui então ourives;
A procurar por matérias quinhentas
para esculpir amores intangíveis!

Marionete de Trapos Coloridos

Pois quando noto seu, de fel, sorriso
Eu me deleito nesse doce apreço...
e de tamanho prazer regojizo,
tanto que ao deleite até me esqueço.

Gargalho por ver este olhar nervoso,
aos pesadelos quando eu lhe apareço
a divertir-me no mais puro gozo
Nessas palavras-linhas lhe enlouqueço

Sem mim teus passos são vagos, perdidos.
Sozinha és sem encanto, faz só dormir.
Jogada em qualquer canto o pó cobrindo

Marionete de trapos coloridos,
és assim tão linda que me faz rir!
Pois agora me dance, estou assistindo...

A barca

remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos restos desprezados
amargando prantos encarcerados

remam em seu rancor plo rio d'orrores
aprisionados pelas mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobr'eterno repouso dos finados

remam mortos, agora penitentes
sofrem por seus viveres indecentes

pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando plos vivos esquecidos

remam sofridos na barca da morte
praguejam por tamanha sua má sorte

Conto de Fadas

Carrego a flor entre os dentes
Para saltar a sua janela
de minha doce cinderela
presa na torre por correntes

Algemada fica tão bela
encanta sábios e videntes
aguça os desejos ardentes
coberta co'a cera de vela

Atiça as formas nada esquálidas
os meus ardorosos carinhos

Adorna-lhe as lágrimas cálidas
entre os seios a rosa de espinhos

Ela, rainha das minhas fadas
no calabouço do meu ninho

Fétidas Flores

Não são flores d'alma que presto:
são de sangue e carne, eu atesto.
Fazendo dos teus olhos vítimas,
das perversões minhas mais intimas!

Eu vomito verso indigesto,
o pior do lixo e do resto...
a seco engolido co'as lágrimas,
secreções, loucuras e lástimas!

Leitor pois não me leia incauto;
lhe pegarei em sobressalto...
em seu misto d'asco e desejo!

Sei q'estas palavras imundas,
atiçam vontades profundas...
que dentro de ti antevejo!

Menino mau

Se metade disso fosse verdade...
e largue mão dessa porca vaidade!
Já que você não passa d'um cordeiro,
fingindo ser um ouriço-cacheiro!

Vista suas calças já chegou a idade...
não é nem capaz da menor maldade!
Tema vilania d'um cão perdigueiro,
que depois da sova volta cabreiro!

Sua mordida mais forte é só carinho...
tem na sua boca veneno inocente,
que nem sabe como acertar um bom bote!

Agora vá brincar com seu carrinho...
e deixe para quem sabe realmente,
usar uma lingua como chicote!

menininha

menininha, menininha
tão inocente a me sorrir
que tu saiba serás minha
muito tenho a lhe bolir

menininha, menininha
vou lhe botar pra dormir
não ficarás mais sozinha
muito tenho a lhe bolir

menininha, menininha
não tens mais porque chorar

menininha, menininha
tens meu colo pra deitar

menininha, menininha
tens toda noite a mamar

Restos

Primeiro vou celebrar
tudo que restou de mim
entre o penhasco e o mar
com as asas de marfim

Primeiro vou lhe guardar
pedaço e pedaço assim
sangrando n'algum lugar
que inda chora nosso fim

minhas asas já não são
tão belas quanto lembras
ou macias como sentiu

hoje asas de camaleão
de couro remendo e dobras
como meu eu triste e vil

As quadras d'ela

As quadras d'ela

Vem q'eu te quero querida.
Vem q'eu te quero atrevida!
amarrada em minha cama,
para mais de uma semana!

Vem q'eu te faço perdida,
de mim não cabe fugida!
Vem q'eu te faço nirvana,
cá donde meu gozo emana!

nos braços de morte e vida
Vem q'eu te pego ferida...
no meu ardil que te engana
Vem q'eu te pego com gana!

em minha sala servida
em meu quarto deglutida
Vem q'eu te tomo uma dama
Vem q'eu te tomo putana!

Quebrado

Eu adoro coisas faltando
pedaços onde o inteiro
que se esperava tanto
não falta no pardieiro

Eu sou d'algo faltando
meu olhar não é certeiro
e a perna esquerda mancando
me dá um ar mais fateiro

Como xícaras quebradas
servindo de copos pintados
é minha morta esperança

Minhas ilusões viciadas
meus sonhos despedaçados
compõe minha nova dança

Sim

Sou seu sátiro selvagem
saído sob sonhos singelos
sempre sonhando sozinho

Sou seu sortilégio simples
serpenteando soluções
sobre sutil sordidez

Sou seu solitário sábado
sendo sempre serviçal
sem sorriso satisfeito

Sou seu singelo segredo
soterrado sob sepulcro
sem sombrias sombras secretas

Só sou, somente sou sempre
sem sentido sem sapiência
sem solução sem segredos

Vaso de flor

Provocar os sentidos evocando
sonhos, ódios, paixões ou muita dor?
Desafio co'a palavra anil pintando
um vaso singelíssimo e sua flor

Enquanto passam pelas ruas cantando
a perda d'algum veraneio amor...
Eu Revelo mil gozos delineando
quadros com perfeição luz de pintor!

São detalhes que não deixam ao acaso
ou fortuito d'espelhos quebrados
para criar mosaicos dessas vidas

É nos jardins e bosques do Parnaso
nos montes de arvoredos bem cuidados
que pendem frutas pelas mãos cerzidas

Canalha

Para elas vou fazer a Poesia
mais Bela que sequer Camões fazia
Versos sordidamente Lapidados
para ver seus olhares Encantados

Mestre nos Poemas de Galanteria
que consquistará a boca mais macia
por meus Versos nos pequenos recados
corpo e coração são Arrebatados

Escrevo com Heroismo das espadas
das penas, capas, lenços e chapéus
não mando flores mas prometo céus

Me encanta moças tão Apaixonadas
perguntando: "Seus versos são pra mim???"
Só posso responder sincero: "Sim!"

Sátiro

Olhos violaceamente tão injetados
incréu à tal fada que lhe sorri...
Sátiro co'a flauta de mil bordados,
em cada nota um naco da de si!

Vai pelo ar na presteza dos alados:
convida sáfico igual colibri!
Na sedução de ardores, mil cuidados...
pelo rubor da Fada, Ele se ri!

Quando co'a flauta vem seu belo canto,
dando-lhe beijos sem qualquer aviso...
roubados, mui bem dados por vaidade!

Chegando a noite a lhe servir de manto,
pois nela o seu maior pranto é de riso
por actos em ausente sobriedade...

Literatura Potencial

Flerto hoje com o movimento Oulipo
pois não direi que nele eu acredito
mas que talvez tenham a solução
para livrar-me desse vil grilhão

É no seu paradoxo q'eu insisto
num casamento tão perfeito e quisto
abocanhando as normas com paixão
frutos de liberdade nascerão

velho Parnaso até o Sr. Drummond
escolherei o mais afinado som

dos de Concreto até meu fiel Bilac
desonrarei jamais versando araque

luzes eternas da inspiração da vela
serão Augusto e a bela flor Florbela

Amargo

Meu rancor é tanto frio quanto cálido
Amargo tal um beijo calculado
e doce como a bela anis roubada
sem riso ou tristeza acalentada

Pouco me importa qual o meu estado
sem pensar quanto é certo ou errado
Eu não lamento tal vida alquebrada
quando se esvai minh'alma acorrentada

Insônia não é mau em companhia
quando bem juntos meu temor se esvai
deixando para trás qualquer cobrança

Insônia não é mau em solidão.
Quando ficar calado nada atrai
e a madrugada passa sem lembrança

Ébria Composição

Através, da fumaça cinzenta,
do conhaque marrom, lhe contemplo
e ela tão solitária se senta
pra sorver seu café a conta e tempo

Sua presença que já me atormenta
e a fumaça carrega plo vento
as delícias que a pena me intenta
murmurando-lhe meu triste alento

Quando lhe vi deixar eu não pude
de notar sua tez tão mais macia
que a mais doce das notas do alaude

palpitar de seu peito: harmonia
intocável por minha mão rude
incapaz para tal sinfonia

Pois seus beijos nunca foram sinceros

Após nosso para sempre
nada foi que me restou
eu queria a verdade ou
ser feliz eternamente?

Minha boca inda inocente
sabor amargo provou
Eu não sei quem mais errou
quem acredita ou quem mente

Com nosso sonho o que faço?
Como sonhar tão sozinho?
Como não mais lhe querer?

Sem você sou só pedaço
Em meu pesadelo daninho
indo aos poucos me perder

Você

Diga quanto de você
deixou ficar para trás?
presa nas minhas narinas
ou sobre minhas retinas

Diga quanto de você
deixou ficar para trás?
por todos os meus lugares
em todos os meus pares

Em um posto do correio
ou numa praça esquecida
se deixou ficar presente

faz parte do meu asseio
limpar lhe da minha vida
mas não sai por mais q'eu tente

Filho Pródigo

Digo: Saudades não tenho.
Sou, ao menos, orgulhoso
demais pra dizer que tenho
de outro tempo saudoso!

Mas eu nem sei se eu convenho
em dizer que sou desgostoso
da terra que digo e venho
praguejando por troça e gozo!

Cidadezinha pacata;
é dessas que ninguém morre
e dessas que ninguém mata!

Cidadezinha de porre;
se o fim-do-mundo desata...
eu quero ver quem socorre!

Vermelho de Chão, Vermelho de Bucha

Joelho ralado e vermelho,
não de meu sangue aos montes...
mas do mesmo barro velho
cá dos belos horizontes!

Choro e escuto o conselho:
"Banho fim-de-férias antes!¨
Retruco mas me aponta o bedelho:
que tem barro até nas frontes!

E diz a vó, no fogareiro,
quentando ao pé da serra:

"que apenas caminha quem erra
quem tropeça na montanha

de terra rubra e estranha
do ferroso formigueiro!"

Donzela de Seda

O sabor adocicado,
eu tenho e jamais o nego!
Mas ele está bem guardado:
oculto pelo meu ego...

Sei até o que faço errado:
ao mau hábito me apego.
Tendo o corpo maltratado
se de raiva fica cego...

Eu até gosto de espinhos,
pois realçam o perfume
da flor que traz para mim.

Eu me dou bem com carinhos:
do punhal de fino gume
vindo a me cortar enfim!

Enlace

Envolta em laços de seda
ela se volta fremente
Sendenta pra que suceda
o fetiche mais envolvente

Pela paixão que lhe enreda
vem o gemido eloquente
de cada curva e alameda
do seu corpo e de sua mente

Sao minhas fitas carmim
que lhe domina e cega

É pois atada por mim
que toda apenas se entrega

Ao prazer que nao tem fim
que nao foge e nem se nega

Depois de amanhã

O dia depois de amanhã
Eu sei bem como vai ser
acordarei de manhã
com a barba por fazer

O dia depois de amanhã
Eu sei bem como vai ser
dormirei com minha irmã
(a que nunca vim a ter)

E você me sorriria
nas mil pequenas intrigas
quando o chefe vai embora

Nesse novíssimo dia
cantarei velhas cantigas
que inventarei na hora

Eferma

Quanto vale o honorário
do verme tão solitário
que malgrada toda sina
e não cura a medicina?

Ele recebe seu salário
pelo labor de operário
come carne pequenina
da já eferma menina

com seu pijama de seda
passa o dia deitada ao leito
se distraindo na leitura

dos versos que bem lhe enreda
desejos e no seu peito
quer d'um homem a ternura

Pueteiro Filosófico

Eu, de núvens e relógios
nada pretendo saber
se ao metro faço elogios
é só para meu prazer

O verso me diz verdades
que jamais viria a ter
refutando mil vaidades
e mentiras sobre o ser

Com chicote na mão
dialética do senhor
e do escravo me apraz

A minha revolução
é perversa em seu furor
e declara guerra à paz

Domingo de Família

Qualquer assunto aleatório
vira tema de velório
bem falta açucar no chá!
ou das novas cochicar

Mas nada ouve o inglório
do morto no falatório
defunto igual não há
presunto ai de quem provar

A nora nova afana a taça
ela faz com quatro quadras
seus dedos duma quadrilha

Os três irmãos saem no tapa
se faz com quantas espadas
a moral duma família?

Lição de Casa

Vem cá com a tia
menino acanhado
vem e acaricia
meu rosto de lado

Vem e beija a tia
menino calado
sua boca na mia
seu lábio molhado

Vem e deita a tia
menino tarado
na cama macia
do quarto apertado

Vem mas deixa a tia
menino apressado
sem mais covardia
meu novo safado

de core

A cor desses olhos seus
sei não menos que de cor
São eles dois sonhos meus
me corando o coração

Pintaria até os ventos
pelo meu sangue curtidos
guardando nossos momentos
tal nas catedrais os vidros

Decoraria meus ateus
pensamentos com as cores
rubras coronárias com deus
coroando nosso grilhão

Tingiria sentimentos
nos bordados coloridos
por deleites quinhentos
de desejos bem floridos